domingo, 11 de março de 2012

9- Capítulo Nove

2011
Senti meu corpo enrijecer com a tensão que sua pergunta me causou. Não que eu estivesse tentado a aceitar seu pedido, mas porque percebi que aquele assunto não teria fim.
“Talita...” Peguei seus ombros a afastando de mim.
Ela bufou tentando ser humorada. “Eu já sabia a sua resposta, Jack, mas não custava tentar. Então, me deixe te fazer outra pergunta.”
“Ok.”
“Você definitivamente não me ama, certo?”
“Desculpa...”
“Não se desculpe. Mas você está na banda mesmo com tudo o que aconteceu entre a gente porque você ama tocar, certo?”
“Sim.”
“Mas se de repente, houvesse outra banda que te convidasse... Aceitaria?”
Pensei. “Não...”
Talita avaliou a minha resposta seriamente e quando pareceu encontrar meu motivo fingiu carranca. “Tá. Isso por causa da Sally, né... a banda querida dela e blá, blá.”
Não respondi.
“Como imaginei. Quer dizer que se ela te incentivasse a aceitar o convite de outra banda, você não pensaria duas vezes. Ou caso ela pegasse encrenca séria com algum de nós... Qualquer desagrado dela com a gente já seria motivo, certo?”
“Não entendo aonde quer chegar, Talita.”
“Mas e a minha voz, Jack?”
“O que tem?”
“O que acha dela?”
“Acho linda.”
“Só?”
Suspirei. Ela queria detalhes, ok. “Quando você canta é como se eu escapasse desse mundo. Você fica incrível quando canta. Sua voz é única.”
Talita sorriu satisfeita. “E você seria capaz de tocar para outro cantor mesmo assim...” Continuou. “Da mesma forma que ama a minha prima e se envolveu por tanto tempo comigo.”
Culpado.
“Tudo bem, Jack. Descobri uma forma de seguir em frente numa boa. Aceito sem complicações que seja com a minha prima que você queira estar. Seja sempre tão firme e fiel como agora. Mas se é a minha voz que você ama, não vou aceitar que traia isso. Ame apenas a minha voz. Toque só pra mim.”
Foi impressionante ouvir a forma simples que ela usou para falar de algo que parecia tão mais complexo em minha mente. A verdade era que eu realmente só gostaria de tocar para a sua voz. “Tudo bem pra mim.”
Ela sorriu largo. “Podemos voltar pra sala agora. Já estou com a minha pendencia resolvida. Mas parece que você ainda tem uma lista pra resolver. Por que não começa com a parte que mais te interessa e está logo aqui do lado?”
“Você está mesmo bem agora?”
Talita me deu mais outro sorriso. “Estou sim, Jack. Engraçado até. Entrei nessa sala pensando que só haveria uma forma de terminar tudo bem e que nunca aconteceria, mas estou tão bem como nunca. Saber que a minha voz é única pra você me traz uma felicidade que nunca experimentei antes.”
Talita não era do tipo que media suas palavras ou ações, ela falava o que queria quando queria e pouco se importava para as consequências disso. Era quase como se curtisse a surpresa que esse seu modo de ser causava nas pessoas ao redor. E dessa vez nem mesmo o seu nariz arrebitado a impediu de dizer tudo o que queria me dizer.
Voltamos à sala e só os meninos estavam nela. Onde a Sally estava?
Talita fez a pergunta em voz alta por mim. “Cadê a Lilly?”
“Ah, ela disse que queria curtir um pouco a noite lá no jardim.” Ricardo respondeu.
“Forever alone.” Vinícius comentou e trocou risadinhas bobas com o Caio.
“Boa noite.” Desejei a todos e fui procurar por Sally.
Sally estava mesmo no meio daquela cerca viva, sentada num dos bancos admirando o céu estrelado. Acho que sentiu a minha presença; provavelmente, o som dos meus passos chamou sua atenção. “Ah, Jack... Já é muito tarde?”
“Ainda não.”
“Hum... Senta aqui.”
Fiz como pediu. “Pensando em alguma coisa?” Perguntei.
“Em você.”
“Em mim?”
“Jack, posso te fazer uma pergunta?”
“Pode...”
“O que você sente por mim?”

You know I love you so,
You know I love you so
Você sabe que eu te amo tanto,
Você sabe que eu te amo tanto.

“Ahm? Como assim?”
“Você entendeu. Me diz, por favor, eu preciso saber.”
Minhas mãos travaram no banco. Meu coração batia com tanta força que eu jurava que Sally podia ouvir as batidas. “Você é especial pra mim...”
Ela continuou calada, esperando que eu continuasse.
“Muito especial.”
Ela olhava serenamente para o céu em silêncio.
Eu estava a ponto de virar fumaça pelos ares.
“Mas... Por que está me perguntando isso?”
Sem tirar os olhos do céu, Sally colocou uma de suas mãos sobre a minha que apertava com força demais o banco de madeira. “Pode me falar, Jack. É só me falar...”

Look how they shine for you,
Look how they shine for you,
Look how they shine...
Olhe como elas brilham por você,
Olhe como elas brilham por você,
Olhe como elas brilham...