domingo, 21 de dezembro de 2014

16- Capítulo Dezesseis

2011

Suspirei pesaroso e voltei para o quarto. Sally ainda dormia. Desci as escadas sem saber ao certo se estava tomando a decisão certa.
Ainda pelo corredor ouvi suas vozes.
"Eu não estou tentando atrapalhar suas vidas. Só quero poder me aproximar dele. Acho que ele merece mais do que um pai morto." Diogo.
"Diogo, eu sempre o criei como um filho. Por favor, volte de onde veio. Nada disso é necessário." William.
"Não quis te ofender. Eu sei que nunca fui um exemplo pra vocês, mas... Não me impeça de tentar me aproximar dele, por favor."
Silêncio.
"Gabrielle, vou deixar você cuidar disso." Suspirou, " Tenho muito trabalho a fazer."
O senhor William atravessou a porta que já estava aberta e se assustou com a minha presença. Tocou o meu ombro ao passar por mim.
Fui até a porta e perguntei se poderia entrar.
"Claro." Diogo respondeu prontamente.
"Vou deixá-los a sós, se estiver tudo bem pra você, Jack." Minha mãe.
Confirmei com a cabeça. Assim que ela saiu e a porta foi fechada Diogo foi se desculpando comigo.
"Você sempre soube?" Perguntei.
"Sempre suspeitei."

Father And Son (Cat Stevens)
I was once like you are now
And I know that it's not easy
To be calm when you've found
Something going on
Eu já fui como você é agora,
e eu sei que não é fácil
ficar calmo quando você
percebe algo acontecendo

"Se já suspeitava, por que só agora quer participar da minha vida?"
Confusão e vergonha em seus olhos. "Desculpa, Jack..."
"Me diga o motivo."
"Não vou mentir pra você. Não pretendo ficar muito tempo... Nem quero fazer bagunça alguma na sua vida. Só achei que as coisas poderiam ser melhores se pudéssemos nos dar bem, como pai e filho."

But take your time, think a lot
Mas vá com calma, pense muito (por quê?)

"Você realmente acredita que trocando o meu pai morto por um ausente vai ser melhor? Só quero que as coisas continuem como sempre foram." Confessei.
"Jack..."
Interrompi. "Diogo, eu não preciso de um pai agora."
Ele fechou seus olhos por um segundo a mais. Sua expressão era puro remorso. "Não vou te forçar, Jack, eu entendo a sua decisão." Pausou. "Se em algum momento achar que precisa de mim, não vai ser difícil me encontrar. Acho que é a única coisa que posso te prometer."

... and I know
That I have to go away
I know I have to go
... e eu sei
que eu tenho que ir embora,
eu sei que tenho que ir

Não disse mais nada. Saí da sala e fui para um lugar mais isolado no jardim de casa. Com os olhos fechados, lembrei-me de todas as vezes em que fui ver o túmulo do meu pai. Nas vezes em que imaginei como as coisas teriam sido diferentes se ele estivesse vivo. Não entendi o motivo, já que nunca fui sentimental, mas eu realmente quis chorar. Só caiu uma lágrima e senti como se tivesse sido muito mais.
"Jack?" Ouvi uma voz masculina desconhecida.
Abri meus olhos imediatamente e reconheci o rapaz: era o mesmo que acompanhava o Diogo quando bati a porta em sua cara.
Não respondi e ele fez careta.
"Você não precisa ser um babaca só porque as coisas não são como você gostaria que fossem." Ele disse e foi virando as costas.


It's not time to make a change
Just sit down and take it slowly
You're still young that's your fault
There's so much you have to go through
Não é tempo de mudar,
apenas sente-se, vá devagar,
você continua jovem, esse é o seu problema,
há muita coisa ainda que você tem que enfrentar.

Sequei a lágrima do meu rosto. Apressei-me ao meu quarto. Sally acordou com a minha chegada.
"Já são que horas?" Perguntou já encarando o relógio na parede. "Eu dormi esse tempo todo?"
Sorri. Fui até onde ela estava e a beijei como se uma vida tivesse passado desde a última vez em que nos beijamos.